O DIABO EXISTE COMO SER PESSOAL?

O DIABO EXISTE COMO SER PESSOAL?

O cristianismo tradicional e até mesmo alguns ramos do judaísmo, acreditam na existência de um ser “maléfico”, cuja origem se deu no céu, antes do mundo físico ser criado e cuja rebelião neste mesmo céu, o fez ser lançado para baixo, junto com seus auxiliares (os demônios) e cujos objetivos desde então têm sido levar os seres humanos à ruína e perdição, sempre longe do conhecimento e da salvação que Deus proporciona. 

Este ser é conhecido pela visão popular como um anjo poderoso do mal, que induz os homens ao pecado, sendo Ele próprio “adversário de Deus”. Mesmo que divergindo de opinião em alguns detalhes, todos esses grupos são unânimes em atribuir a este “anjo do mal”, a origem do pecado e que por meio de suas instigações, nossos primeiros pais desobedeceram à vontade divina, trazendo então por consequência o pecado ao mundo. 

Os rabinos judeus muito cedo falaram da tendência humana para o mal [ heb. yetser ha-ra ] e a tendência humana para o bem [heb. yetser ha-tov]. Esta tendência para o mal eles entenderam como sendo, por vezes, personificada ou simbolizada pelo “Diabo”.[1]. 

De acordo a estes sábios judeus e as escrituras, visualizamos que a visão tradicional se torna muito difícil de aceitar. Isso faz Deus parecer um homem com uma praga de ratos em sua casa, que lida com ela, expulsando os ratos para a casa ao lado! 

Obviamente a maneira honesta de lidar com ratos em sua casa é matá-los. O homem decente não vai se livrar dos ratos despejando-os na casa do seu próximo. Por que então O Deus Todo-Poderoso lidaria com uma praga de “anjos rebeldes”, expulsando-os para a nossa casa para nos importunar? Por que então Ele não os matou? 

Todos os Anjos nas escrituras são mencionados como sendo justos e servos de Deus e mesmo os "Anjos do mal / desastre", que podem levar destruição aos pecadores, ainda são anjos que realizam a vontade de Deus. (veja Isaías 37:36 e 1 Crônicas 21:16). 
O povo de Deus, Israel, inicialmente tinha essa opinião, mas como tantas vezes aconteceram com o povo de Deus, eles misturaram suas crenças verdadeiras com as do mundo ao seu redor

Mas os primeiros rabinos judeus rejeitaram a idéia de que os anjos se rebelaram, e especificamente rejeitaram a idéia de que a serpente no Gênesis tenha sido Satanás. Naquele tempo, “o diabo judaico” era pouco mais do que uma alegoria da má inclinação entre os seres humanos. [2]. 

A origem definitiva do mal e do pecado humano é de fato uma questão profunda, mas apenas lidando com essa questão é que estamos habilitados a lidar com o pecado e o mal e encontrar uma forma de vencer. A culpa de tudo em um diabo pessoal (na opinião popular), é uma forma de escapismo, esquivando-se da questão, especialmente quando se entende que este tipo de “Diabo” não é encontrado em lugar nenhum na Bíblia, mas sim é um acréscimo de séculos de especulação e adaptação de mitos pagãos. 

De um modo geral no mundo, especialmente no chamado mundo "cristão", existe a idéia de que as coisas boas na vida vêm de Deus e as coisas ruins do Diabo ou Satanás. Esta não é uma idéia nova; nem mesmo é uma idéia apenas limitada ao cristianismo apóstata. Os babilônios, por exemplo, acreditavam que havia dois deuses, um deus do bem e da luz, e um deus do mal e das trevas, e que estes dois travavam combate mortal. Ciro, o grande rei da Pérsia, acreditava exatamente nisso. Por isso Deus disse a ele, "Eu sou o Senhor, e não há outro, fora de mim não há Deus...Eu formo a luz, e crio as trevas, eu faço a paz, e crio o mal ("desgraça" na Nova Versão Internacional); eu, o Senhor, faço todas estas coisas" (Is. 45:5-7, 22). 

Deus cria a paz e Ele cria o mal ou desastre. Neste sentido Deus é o autor, o criador do "mal". Assim, há uma diferença entre "mal" e “pecado”, que é uma falha do homem; e que entrou no mundo como resultado da ação do homem, não de Deus (Rm. 5:12). 

Deus diz a Ciro e às pessoas da Babilônia que "não há (outro) Deus além D´Ele". A palavra hebraica 'el' traduzida como "Deus" fundamentalmente significa "força ou fonte de poder". Deus está dizendo que não há uma fonte de poder que exista à parte dEle. Esta é a razão porque um verdadeiro crente em Deus não pode aceitar a idéia de um Diabo ou demônios sobrenaturais

Deus: O Criador do Mal? 

A Bíblia está repleta de exemplos de Deus trazendo "mal" para as vidas das pessoas e para este mundo. Em toda a Bíblia, Deus é descrito como a única fonte de desastre sobrenatural e do mal: 

Amós 3:6 diz: Sucederá qualquer mal à cidade, e o Senhor não o terá feito? Miquéias 1:12 diz: “porque desceu do Senhor o mal até à porta de Jerusalém”. 

No livro de Jó lemos como Jó, um homem justo, perdeu as coisas que ele tinha na vida. O livro ensina que a experiência do "mal" na vida de uma pessoa não é diretamente proporcional à sua obediência ou desobediência a Deus. Jó reconheceu que "O Senhor deu, o Senhor o tomou" (Jó 1:21). Ele não diz: "O Senhor deu e Satanás tomou". Ele comenta à sua esposa: "Recebemos o bem de Deus e não receberemos (também) o mal?" (Jó 2:10).[3]. 

No fim do livro, os amigos de Jó o confortam quanto "a todo o mal que o Senhor trouxera sobre ele" (Jó 42:11 cf. 19:21; 8:4). Assim, Deus é a fonte do "mal", no sentido de ser aquele que permite os problemas que temos em nossas vidas. 

"Porque o Senhor corrige a quem ama...Se suportais a correção...esta, depois, produz um fruto pacífico de justiça nos que por ela têm sido exercitados" (Hb. 12:6-11). 

Isto mostra que as provas que Deus nos faz passar, ao final, resultam em nosso crescimento espiritual. Dizer que o Diabo é um ser que nos força ao pecado é voltar a palavra de Deus contra si mesma e ser injusto, uma vez que ele espera trazer às nossas vidas os problemas que levam ao nosso desenvolvimento "o fruto pacífico de justiça ". 

Vejam mais estes textos: Juízes 9:23, 1 Sm 16:14-23, 2 Sm. 24:1 e 1 Cr. 21:1. 1 Reis 22:22-23; 2 Crônicas 18:21-22, Romanos 1:25-32, 2 Tessalonicenses 2:11-12. 

O ÚNICO DEUS É SEM RIVAL

Em todo o Antigo Testamento, O Único Deus é apresentado como todo-poderoso, sem igual e em nenhuma concorrência com qualquer outra força cósmica. O Antigo Testamento deixa claro que qualquer "adversário" para o povo de Deus acaba sob o controle do próprio Deus. A bíblia fala que Deus O Pai é TODO-PODEROSO. Este termo vem do hebraico EL-Shaday e do grego PANTOKRATOR. 

Sua etimologia indica que o nome pode derivar do acádio “SHADU”, “Rocha”, “Montanha” (Deus Das Montanhas), ou ainda ,” SHE-DAY”(aquele que é suficiente a si mesmo). Em nossas Bíblias tem o significado de ação de um SER FORTE. [4] 

O que procuro afirmar é que O Deus único não conhece oponente, nem rival. Ele é O Deus auto-suficiente, não há no universo ninguém e nada que se oponha a Ele. Se nós realmente não acreditamos nisto, estaremos questionando a supremacia do Deus Todo-Poderoso. Da mesma forma, quando dizemos que existe um ser (O DIABO DA CRENÇA POPULAR), “adversário de Deus”, estamos afirmando que existe alguém que se opõe a Deus em termos iguais, o que a bíblia em minha opinião não respalda. 

No Antigo Testamento o conceito do mal não existe de forma personificada e autônoma em relação a Deus. Na visão monista, característica do AT, a soberania absoluta de Deus não é ofuscada por nada. Deus é o autor de todas as coisas, sejam elas compreendidas como boas ou más pelo ser humano. A falta de um dualismo radical entre o bem e o mal se explica pela exclusividade de YHVH, por isso a figura de Satã é desnecessária, afinal, YHVH é responsável pelo mal. 

O Antigo Testamento é permeado por uma visão monista, onde Deus é que garante a ordem cósmica e qualquer ser ou pessoa que pretenda atrapalhar esta ordem, recebe a devida retribuição por sua desobediência. 

Neste sentido, pode-se dizer que no Antigo Testamento o mal praticado pelo ser humano traz embutido em si o castigo. Assim sendo, seria correto afirmar que o Deus YHVH é o originador de uma série de males em retribuição ao mal praticado pelo ser humano, todavia ele não é o causador do mal em um sentido moral. 

Entre os séculos VI e IV a.C e IV e I a.C, períodos de hegemonia persa e grega respectivamente, tais culturas influenciaram profundamente o judaísmo e conseqüentemente o cristianismo. Nessa época, teria ocorrido uma ruptura na personalidade de Deus, o qual se tornou exclusivamente um autor benigno, deixando de agir de forma maléfica. No que se refere à cultura hebraica, houve uma quebra, um deslocamento da visão “MONISTA” para uma visão “DUALISTA”. Na concepção dualista, dos persas ou iranianos particularmente, havia um Deus benevolente e um deus malévolo sendo que o mal e o bem eram realidades diferentes de origens distintas. [5]. 

Um Rebelde Imortal? Impossível! 

Um rebelde imortal é uma impossibilidade! Em Deus está a fonte da vida (Salmo 36:9). Ninguém pode enganá-lo, preservando a sua vida e poder por rebeldia. "Na sua mão está a alma de todo ser vivente." (Jó 12:10) e tira a vida de todos os que se levantam contra Ele. Entrega à morte toda a desobediência e pecado. Sugerir-se-á que Deus fez uma exceção no caso do diabo? O diabo bíblico é um pecador (1 João 3:8), portanto não pode ser imortal. 

Deus não faz acepção de pessoas, sejam homens ou anjos. Em Deus não há mudança nem sombra de mudança. Ele é um. Ele é o mesmo para sempre e em toda parte. Ele não age de uma forma na terra e em outra no sol ou em outras partes dos Seus domínios. Seus caminhos são sábios, consistentes e invariáveis. Por conseguinte, a operação da Sua lei que associa a morte com o pecado destruiria o diabo se este fosse um indivíduo; “o diabo vive pecando desde o princípio" e tem que ter sido mortal desde o início. 

Em alguns casos, o ponto de vista popular chega aceitar este argumento até ao extremo de admitir que o diabo não pode ser imortal e deve morrer no decorrer do tempo. No entanto, sugere que, mesmo que seja mortal, deve ter existido desde a criação da raça humana, e a sua carreira vai terminar apenas quando o Filho de Deus triunfar sobre a terra. Isso, claro, é mais absurdo e insustentável que o ponto de vista comum. 

A teoria de um diabo imortal e sobrenatural, que já foi um anjo, parece possível e consistente quando esta não é examinada cuidadosamente; mas a idéia de um diabo mortal, que não passa de um pecador, exercendo a sua influência sobre outros pecadores (porque se diz ter o poder da morte e da doença) com o objetivo, não de aplicar a lei divina mas para rivalizar com a Divindade no Seu trato com a humanidade, fazendo tudo que pode para afligir e levar à destruição a todo os que a Divindade está tentando salvar, é extremamente difícil de conceber. 

Se este é o diabo da Bíblia, por que foi necessário que Jesus morresse para conseguir a sua destruição? Ele partilhou da carne e do sangue "para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo." (Hebreus 2:14). Como destruiu o diabo através de sua morte? 

Se o diabo é um ser independente da humanidade, o que tinha que ver a imolação da carne e sangue de Cristo no Calvário com o processo da sua destruição? Sendo um personagem maligno, ativo e forte então era preciso poder e não fraqueza para vencê-lo. Era necessária a natureza de um anjo e não de uma "semente de Abraão" para combater com sucesso o poder pessoal das trevas. Mas Jesus existiu em carne e submeteu-se à morte para destruí-lo. A vitória coroou os seus esforços, e o diabo foi destruído. 

As palavras "diabo" e "Satanás" ocorrem várias vezes nas Escrituras, mas não existe afirmação alguma sobre a doutrina popularmente associada com estas palavras. Isto é importante porque, se a doutrina fosse verdadeira, seria razoável esperar que fosse formalmente expressa da mesma forma que as outras verdades. [5]. 

Deve ser enfatizado que o pecado vem de dentro de nós. É por nossa falha que pecamos. Aceite o leitor ou não, é isso que a bíblia diz. É claro, seria bom acreditar que não é por culpa nossa que pecamos. Poderíamos pecar livremente e então nos desculpar com o pensamento de que, realmente, foi culpa do Diabo, e que a culpa do nosso pecado deve ser colocada inteiramente sobre ele. 

Os temas do mal, do diabo e dos demônios, são sumamente complicados. Na realidade encontram-se entre os últimos temas que um estudante da Bíblia chega a entender. Isto se deve aos escritores do Novo Testamento (onde ocorrem quase todas as referências a "diabo" e aos "demônios"), onde esperam que o leitor já tenha um entendimento do Antigo Testamento. Com muita freqüência os leitores do Novo Testamento não têm conhecimento do Antigo Testamento, e têm os seus próprios conceitos acerca do “diabo”, e dos “demônios” segundo o significado dessas palavras na sua cultura local. Desta forma misturam as suas próprias idéias com os ensinamentos da Bíblia.

DIABO E SATANÁS, O QUE SIGNIFICAM? 

A palavra SATAN - שָטָן - (significando adversário, acusador), derivam da raiz semítica šṭn, significando ser hostil, acusar [6]. O Tanakh (nome dado ao que nós conhecemos como Antigo Testamento) utiliza a palavra שָטָן (satan) para se referir a adversários ou opositores no sentido geral assim como opositores espirituais. 
A palavra DIABO (Grego Diabolos) significa (acusador, caluniador), formada por duas palavras: dia – através de - e ballein – que é lançar, jogar. [7] 

Diante do significado das palavras exposto acima, vamos mostrar que a Bíblia nunca se refere a diabo e satanás como um anjo caído. O uso bíblico destas palavras mostra que elas podem ser aplicadas como adjetivos comuns, descrevendo pessoas comuns. Este fato torna impossível deduzir que as palavras Diabo e Satanás, como são usadas na Bíblia, por si mesmas, se referem a uma pessoa ou a seres muito perversos fora de nós. No sentido amplo, a Bíblia usa essas palavras como uma personificação do maior adversário da raça humana, o que nos acusa diante de Deus – “nossa própria pecaminosidade”. 

A visão popular do diabo desafia o senso comum e o ensinamento da Bíblia. Se Deus "amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito" por nós (João 3:16), como ele poderia permitir a existência de uma criatura sobrenatural, cuja intenção é nos destruir? 

A 1ª OCORRENCIA DE SATANÁS NA BÍBLIA 

A opinião comum alega que satanás aparece pela primeira vez nas escrituras no relato da tentação de Eva, em gênesis, capítulo 3. Comumente se ouve falar que a serpente com o poder da fala, representou a primeira manifestação mediúnica na história. Isto é falso. 

A primeira ocorrência de satanás na bíblia, encontra-se em Números 22:22: 

E a ira de Deus acendeu-se, porque ele se ia: e o anjo do Senhor pôs-se-lhe no caminho por adversário (heb. satan): e ele ia caminhando, montado na sua jumenta, e dois de seus moços com ele. 

O versículo 32 do mesmo capítulo esclarece quem era “satã” no texto: 

Então o anjo do Senhor lhe disse: Por que já três vezes espancaste a tua jumenta? Eis que eu saí para ser {teu} adversário (heb. satan), porquanto o {teu} caminho é perverso diante de mim. 
Observem que aqui, o “satanás” da passagem é o Anjo de YHVH que se opôs a Balaão quando ele saía para amaldiçoar o povo de Israel. 

Mais referências de satan na bíblia: 

Porém os príncipes dos filisteus muito se indignaram contra ele; e disseram-lhe os príncipes dos filisteus: Faze voltar a este homem, e torne ao seu lugar em que tu o puseste, e não desça conosco à batalha, para que não se nos torne na batalha em adversário (satan): porque com que aplacaria este a seu senhor? {porventura} não {seria} com as cabeças destes homens? (1 Sm. 29:4). 

Porém Davi disse: Que tenho eu convosco, filhos de Zeruia, para que hoje me sejais adversários (satan)? Morreria alguém hoje em Israel? Porque {porventura} não sei que hoje fui {feito} rei sobre Israel? (2 Sm. 19:22). 
Aqui, os filisteus referiam-se a David como um “satan”, no contexto militar representando um inimigo dentro de suas fileiras e usa a mesma expressão quando se refere a Joabe e Abisai. A palavra “satan” foi corretamente traduzida. 

NO LIVRO DE REIS 

Porém agora o Senhor meu Deus me tem dado descanso de todos os lados: adversário (satan) não {há}, nem algum mau encontro. (1 Reis 5:4).

Levantou, pois o Senhor a Salomão um adversário (heb. Satan), a Hadade, o idumeu: ele {era} da semente do rei em Edom. Também Deus lhe levantou {outro} adversário (heb. Satan), a Rezom, filho de Eliada, que tinha fugido de seu senhor Hadadezer, rei de Zobá.

E foi adversário (satan) de Israel por todos os dias de Salomão, e isto além do mal que Hadade {fazia}: porque detestava a Israel, e reinava sobre a Síria. (1 Reis 11:14,23,25).

Nesta passagem, o “satan” é apenas um ser humano comum, Hadade, o Idumeu e Rezom, que se opuseram a Salomão. Não há nenhuma figura de um “anjo caído” descrita aqui. 

NO LIVRO DE SALMOS 

Os que dão mal pelo bem são meus adversários (satan), porque eu sigo {o que é} bom. (Salmos 38:20). 

Sejam confundidos e consumidos os que são adversários (satan) da minha alma; cubram-se de opróbrio e de confusão aqueles que procuram o meu mal. (Salmos 71:13). 

{Em} paga do meu amor são meus adversários: mas eu {faço} oração. 

{Seja} este da parte do Senhor o galardão dos meus contrários, e dos que falam mal contra a minha alma.

Vistam-se os meus adversários de vergonha, e cubra-os a sua própria confusão como {uma} capa. (Salmos 109:4,20 e29). 

“Põe acima dele um ímpio, e Satanás esteja à sua direita”. (Salmos 109:6). 

Por que a ARC 1969 e a ACF deixaram o versículo 6 sem tradução? Vamos analisar o contexto e ver a forma correta da tradução: Versos 1 a 5; 

Observem que aqui a palavra “satanás” foi deixada sem tradução na versão ARC 1969 e escrita com letra inicial maiúscula, favorecendo o entendimento de que se trata de uma pessoa. Como dito acima, o termo “satan” significa “adversário, opositor”. 

Salmos 109 - Versículos 1 a 5 - Ó DEUS do meu louvor, não te cales; Pois a boca do ímpio e a boca fraudulenta estão abertas contra mim: têm falado contra mim com uma língua mentirosa. Eles me cercaram com palavras odiosas, e pelejaram contra mim sem causa. {Em} paga do meu amor são meus adversários: mas eu {faço} oração. Deram-me mal pelo bem, e ódio pelo meu amor. 

Davi aqui está falando a respeito dos homens maus que o cercavam, os quais Ele mesmo chama de “meus adversários”. Então apela a Deus para que “coloque um ímpio como seu adversário também”. Todo o capítulo exige que a palavra “satan” seja traduzida, observando seu verdadeiro significado.

Olhem para o número de vezes que a palavra “satan” ocorre neste capítulo (um total de 4 vezes: 

v. 4 - {Em} paga do meu amor são meus adversários: mas eu {faço} oração. (Traduzida corretamente);

v. 6 - Põe acima dele um ímpio, e Satanás esteja à sua direita. (Deixada sem tradução); 

V. 20 - {Seja} este da parte do Senhor o galardão dos meus contrários, e dos que falam mal contra a minha alma. (Traduzida nesta versão como contrários); 

V. 29 - Vistam-se os meus adversários de vergonha, e cubra-os a sua própria confusão como {uma} capa. (Traduzida corretamente). 

Para confirmar, veja este mesmo capítulo, em 3 versões diferentes e como elas traduziram o v. 6 corretamente: 

“Designe-se um ímpio como seu oponente; à sua direita esteja um acusador”. NVI 

“Coloca sobre ele um homem perverso, E esteja à sua direita um adversário”. SB Britanica 

“Suscita contra ele um ímpio, e à sua direita esteja um acusador”. ARA. 

NO LIVRO DE ESTER 

Porque fomos vendidos, eu e o meu povo, para sermos destruídos, mortos e exterminados; se ainda por servos e por servas nos tivessem vendido, eu teria me calado, ainda que o adversário (satan) não poderia ter compensado a perda do rei. (Ester 7:4) 

NAQUELE mesmo dia deu o rei Assuero à rainha Ester a casa de Hamã, inimigo (heb. Satan) dos judeus; e Mardoqueu veio perante o rei; porque Ester tinha declarado o que lhe era. (Ester 8:1). 

Aqui, Hamã é descrito como “O SATAN” do povo judeu. Estes dois versos foram traduzidos na septuaginta como “ho diabolos”. Embora a ARC 1969 não tenha colocado o artigo definido antes do vocábulo satan, no original hebraico ele se encontra. Isto demonstra claramente que a palavra não é um nome de um ser pessoal e maléfico, porém significa simplesmente “adversário, aquele que se opõe”. “O Diabo aqui é Hamã, ninguém mais”.

MARCELO ALEXANDRE DO VALLE